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terça-feira, 9 de abril de 2013

Florença

Qual a cidade que mais gostei de conhecer em Itália? É uma pergunta difícil de responder, mas cada vez que me fazem esta pergunta o meu primeiro pensamento pára em Florença! Apesar de tudo o me vi e ao qual me rendi, esta cidade é de uma beleza e de uma inspiração impossíveis de descrever... será que foi por ter sido esta a região onde passei mais tempo? Será que foi por ter sido esta a cidade onde comemorei o meu 27º aniversário? Talvez sim e sei que estas razões lhe atribuíram um significado especial mas também sei que houve algo mais! Por curiosidade... já ouviram falar no Síndrome de Stendhal? Diagnosticado nos anos 70 pela psiquiatra Graziella Magherini, Stendhal era um autor francês que ao entrar na Igreja de Santa Croce, teve um surto cujos sintomas foram tonturas, taquicardia e confusão mental. A origem? O excesso de beleza desta Igreja. Segundo esta médica, os turistas que não estão preparados para o excesso de beleza desta cidade tornam-se susceptíveis de contrair este Síndrome... acreditam?
Florença situa-se a região da Toscana e na província com o seu próprio nome.  Teve origem numa povoação Etrusca e o seu apogeu coincideu com a governação da família Médici, entre os séculos XV e XVIII. Esta era uma família de banqueiros, cidadãos comuns, cuja dedicação à população lhes conferiu grande destaque e os levou a serem considerados, pelo povo, como família real. Carolimo de Médici, conhecido como o "Velho", foi o primeiro membro de destaque desta família, no século XIV. No século XV a família Médici fundou o Hospital Tozzi Firenze, o maior da Europa naquela altura e este foi o salto que lhes proporcionou poder político e os tornou na dinastia "política" (uma vez que não eram monarcas) que governou Florença. Tendo sido das famílias mais ricas da Europa, a família Médici preocupou-se também em contribuir para a melhoria do sistema de contabilidade. Foi durante a sua governação que a preocupação pela arte e pelo humanismo floresceu, tornando-se Florença o centro cultural e intelectual da Europa. Desta família surgiram também 4 Papas: Papa Clemente VII, Papa Leão X, Papa Pio IV e Papa Leão XI. Também por influência dos Médici, Florença é considerada o berço do Renascimento italiano, sendo o palco de inúmeras obras de arte de artistas sem igual como Michelangelo, Leonardo da Vinci, Botticelli, Giotto, Donatello, Dante (que aqui nasceu), Maquiavel, entre muitos outros.
 
 
 
Tal como não poderia deixar de ser, o Centro Histórico de Florença é Património Mundial da UNESCO. Segundo esta entidada mais de metade das importantes obras de arte de todo o Mundo encontram-se em Itália e, desta parcela, cerca de metade estão em Florença. A sua riqueza é mesmo única e a cidade um autêntico tesouro, pelo é considerada das maiores capitais artísticas de todo o mundo! Para facilitar a visita da cidade, e à semelhança de outras cidades italianas, Florença também tem o seu Cartão Turístico, com um custo de 50 euros e uma duração de 72 horas (a contar a partir da primeira visita), que permite o acesso a muitos dos museus e igrejas da cidade assim como a transportes públicos. Acreditem que para quem queira visitar a maior parte destes monumentos vale a pena adquirir o cartão, pois à excepção do Duomo, a visita a todos os restantes monumentos que aqui irei referir é paga. Consultem em: www.firenzecard.it
 
À semelhança de outras cidades italianas a circulação automóvel nesta zona é limitada e sujeita a autorização das autoridades (à excepção de veículos prioritários e alguns transportes públicos) - ZTL: Zone a Traffico Limitato. Estacionei na periferia e apesar de ter procurado bem informo que não encontrei nenhuma zona isenta de pagamentos de parquímetros... Quando cheguei ao hotel o gerente aconselhou-me a fornecer-lhe a minha matrícula, de forma a que ele pudesse colocá-la numa base de dados informática - é este o procedimento para pedir  autorização para a circulação automóvel. Quem visitar a cidade de carro e não der conhecimento da sua viatura, se for apanhado pela polícia a conduzir sujeitasse a ser multado por isso não se esqueçam deste detalhe importante! De qualquer forma asseguro-vos que Florença é uma óptima cidade para se visitar a pé.
 
Organizei a minha visita pela cidade caminhando no sentido de norte para sul, percurso dividido por três dias.
Em primeiro lugar passei pela Piazza di San Marco, zona que antigamente era ocupada por estábulos e armazéns que albergavam os animais da família Médici - girafas, leões e elefantes. Hoje em dia é um simpático bairro universitário onde encontramos a Accademia di Belle Arti, a mais antiga escola de belas-artes do mundo e que ainda se encontra em funcionamento. É aqui que podemos visitar a Galleria dell'Accademia, a primeira escola europeia criada com a finalidade de ensinar as técnicas de desenho, escultura e pintura. Reune também uma coleção de arte, da qual se destaca a obra mais famosa de Miguel Ângelo: a escultura original de David, que conferiu ao seu autor o reconhecimento de ser o maior escultor da sua época. Este é uma estátua de 5,20 metros que representa o colossal nú do herói bíblico que matou o gigante Golias. Nada foi deixado ao acaso e, de facto, desde os pequenos detalhes ao grosso desta estátuta, o que os nossos olhos vêm é uma figura masculina no seu expoente máximo, na qual tudo é perfeito! Aqui dentro é proibido tirar fotografias...  
 
Um pouco mais abaixo cheguei à Igreja de San Lorenzo, antiga igreja paroquial da família Médici. No seu interior para além de obras de arte encontramos integrado o complexo das Cappelle Medicee, que inclui a Cappella dei Principi (Capela dos Príncipes) e cuja cúpula foi inspirada na do Duomo e o Mausoléu dos Médici, com a respectiva cripta dos túmulos da família Médici (a Sagrestia Nuova). Dentro da Igreja também existe uma biblioteca que abrigava os manuscristos desta família.
 
 


Continuando o meu percurso, cheguei ao centro histórico (e geográfico)  de Florença, onde se encontra uma das suas maiores atrações: o Duomo - Basílica di Santa Maria del Fiore - com o seu Campanário (obra de Giotto) e o Baptistério situados  entre a Piazza di San Giovanni e a Piazza del Duomo.

 


 
O Batistério é um dos mais antigos edifícios da cidade e é conhecido pelas suas portas de bronze, encomendadas como o intuito de celebrar o fim da peste negra que assolou a cidade. São as portas de leste que Miguel Ângelo baptizou como as "Portas do Paraíso" e que dispõem de 10 painéis em relevo, que identificam cenas bíblicas.
 
 
 




O campanário ou torre sineira, foi projectado por Giotto e tem uma altura inferior à da cúpula, com cerca de 86 metros. O término da sua construção ocorreu já 22 anos após a sua morte. A sua fachada é em mármore branco, rosa e verde e serviu de inspiração para a fachada do Duomo. 
O Duomo, monumento de estilo gótico-renascentista, é considerado de maior importância para a história da arquitectura e desde o início da sua construção até ao término da sua fachada decorreram 6 séculos! A sua construção foi feita no local da antiga catedral dedicada a Santa Reparata, sendo que a nova catedral deveria ser uma obra de arte que "a indústria e o poder do homem não pudessem inventar ou mesmo tentar nada maior ou mais belo". De fato, atualmente, este Duomo é o quarto maior da Europa e é o edíficio mais alto da cidade. A sua cúpula (de Brunelleschi) está revestida de impressionantes frescos alusivos ao Juízo Final, à qual é possível subir (tem uma altura de cerca de 91 metros) e apreciar as vistas sobre a cidade. 
 
 

O seu interior é amplo, claro com um aspecto  "imaculado", mas ricamente adornado. Um dos objectos de maior atenção é o seu relógio de 24 horas, em numeração romana menos convencional (por exemplo, o número 9 em vez de IX encontra-se como VIIII), que funciona em sentido anti-horário, regendo-se pela hora itálica (sistema horário utilizado em Florença até meados do século XVIII, cujo início do dia era marcado pelo pôr-do-sol). Outra característica é que a hora um encontra-se na porção inferior do relógio e não na superior, como estamos habituados, como forma de aproximar a hora do relógio à posição do sol. Em redor do relógio encontramos o busto de quatro profetas ou de quatro evangelistas (as opiniões são divergentes).

 
Confesso que foi o exterior do Duomo que me deixou verdadeiramente impressionada! É indescrítivel a sensação de tive ao olhar para a fachada em mármore do Duomo... o edíficio estava envolto numa atmosfera própria, irreal, como uma alucinação de rara beleza ou como se o tempo tivesse parado naquele local e eu tivesse sido transportada para outra época. E à parte do Sindrome de Stendhal  seria capaz de ficar horas e horas a observar a sua beleza inigualável!
 




Eu optei por não visitar o campanário e nem quis subir à cúpula do Duomo já que guardei a observação da cidade do cimo da Piazzale Michelangelo, o que vos irei descrever mais à frente. Na minha opinião, foi a escolha acertada!
Nos arredores do Duomo podemos encontrar o Museu del’Ópera del Duomo, o museu destes 3 edíficios, onde estão guardadas as suas obras de arte originais e que refletem a sua história.
 
A continuação do meu percurso levou-me a encontrar a Piazza della Repubblica, local onde se situava o antigo fórum e onde decorria o principal mercado alimentar da cidade. Hoje em dia é aqui que encontramos os mais antigos e conhecidos cafés e restaurantes da cidade. Na altura da minha viagem, no centro desta praça estava um luminoso carrocel, atração para todos os que por ali passavam. Foi nesta praça que encontrei o Hard Rock Café e como sempre lá fui eu escolher uma t-shirt!

 
Continuando a caminhar para sul da cidade, cheguei à Piazza della Signoria, segundo a opinião geral, a mais animada e emblemática das praças de Florença, onde fica situado o Palazzo Vecchio - a atual câmara municipal da cidade - um edifício que conserva algumas das suas características medievais. Esta praça é ainda o palco que serve de exposição a várias estátuas, que assinalam os principais acontecimentos históricos da cidade: a Fontana di Nettuno - o Deus do mar rodeado de ninfas simboliza as vitórias navais da Toscana; a estátua de David - a cópia da obra de arte de Miguel Ângelo que simboliza o triunfo sobre a tirania - e várias outras que assentam na Loggia dei Lanzi, como por exemplo a estátua de Perseu de Cellini que aqui mostra a decapitação de uma medusa, o que constituía um aviso aos inimigos de Cosimo I.


 
É por aqui que encontramos também uma das mais importantes galerias de arte de Itália e do mundo - as Galerias Ufizzi. O edifício foi inicialmente construído no século XVI, como escritórios de um dos elementos da família Médici. O seu piso superior possui uma fachada quase inteiramente em vidro o que permite também vislumbrar alguns ângulos da cidade de Florença sobre a Ponte Vecchio (vejam na segunda fotografia abaixo). Tem comunicação com o corredor de Vasari - Corridoio Vasariano - cujo percurso sobre a Ponte Vecchio permite chegar  ao Palazzo Pitti, situado do outro lado do rio Arno. Atualmente o seu interior encontra-se dividido em várias salas que albergam em si colecções de pintura e escultura únicas em toda a Itália - legados da família Médici ao povo florentino. Para quem não adquira o Firenze Card aconselho a reservar bilhete com alguma antecedência porque rapidamente esgotam. O site oficial através do qual podem fazer a reserva é: http://www.uffizi.firenze.it
 

  
A Ponte Vecchio permite-nos fazer a travessia sobre o rio Arno, para o outro lado da cidade. É a mais antiga ponte da cidade e foi projetada por um pupilo de Giotto tendo sido a única que não foi destruída aquando da II Guerra Mundial. Na sua ala oriental foi construído parte do corredor paralelo sobre as lojas - o Corridoio Vasariano - que permitia à família Médici deslocar-se secretamente sem se misturar com o povo. Atualmente encontra-se repleta de lojas como antiquários e joalharias.
 
Do outro lado da Ponte Vecchio encontramos o bairro de Oltrarno que nos permite ter uma noção mais real de Florença antiga. É neste bairro que podemos visitar o Palazzo Pitti, outrora residência de um banqueiro determinado em superar a supremacia dos Médici. Contudo e, ironicamente, este palácio acabou por ser comprado por um dos elementos da família Médici, quando os herdeiros de Pitti entraram em falência. A partir daqui este edifício tornou-se a residência principal dos governantes de Florença. Hoje em dia este monumento integra, dentro de si próprio, várias galerias com obras de arte de grandes artistas renascentistas, como Raffaello. 

  
Na minha opinião, um dos momentos altos ao visitar esta cidade surge quando visitamos a Piazzale Michelangelo. Apesar da possibilidade de subir à cúpula do Duomo ou ao campanário, não há vista sobre a cidade igual àquela que obtemos deste local. Após alguma ginástica para subir a escadaria que lhe dá acesso, o ar puro que aqui se respira e o ambiente que aqui se encontra são únicos. Claro que encontramos aqui muitos vendedores de recordações da cidade assim como músicos de rua que aqui encontram o seu palco para atuar e deslumbrar os locais e turistas que diariamente aqui passam. Aconselho vivamente a observar o pôr-do-sol de Florença deste local... é simplesmente magnífico!

 




Daqui visualizamos também a Igreja de Santa Maria Novella, construída para os Dominicanos. Encontra-se junto à principal estação ferroviária de Florença. Acabei por não visitar o seu interior pelo que não posso ajuizar sobre a mesma.
 




Também a visitar é a Igreja de Santa Croce, de estilo gótica, é a principal igreja franciscana de Florença e diz-se mesmo  que foi fundada por São Francico de Assis. No seu interior encontramos os túmulos de Michelangelo, Maquiavel e Galilei, sendo por isso conhecida como "o Panteão das Glórias Italianas". A sua decoração interior contempla bonitos frescos de Giotto. No claustro está um monumento dedicado a Florence Nightingale, a "mãe" da Enfermagem, já que Florença é a sua cidade berço e da qual recebeu o seu nome. Não é possível tirar fotografias no seu interior. Vale a pena a sua visita!
 
Acabei por não conseguir visitar o Bargello, um outro museu da cidade, mas para quem gosta de arte é muito aconselhado. Situa-se próximo da Piazza di San Firenze, junto à Piazza delle Signoria. O seu edifício tal qual uma fortaleza serviu, ao longo dos tempos, como Câmara Municipal (antes do Palazzo Vecchio), como prisão (o pátio principal era palco de execuções públicas) e como residência oficial do chefe da polícia (cujo nome Bargello "baptizou" este edifício). Hoje em dia reúne uma colecção de esculturas italianas impressionantes, organizada em três pisos. Não é possível tirar fotografias no seu interior. Para muitos, este Museu rivaliza com o Palazzo Pitti pelo lugar do segundo maior museu de Florença.
 
Sei que este post ficou um pouco longo mas resumir a cidade de Florença não é tarefa fácil... contudo foi dos posts que mais prazer me deu em escrever. E acreditem que muito mais há a conhecer na cidade das artes. De fato, não há cidade que lhe seja comparável! Não deixem de a visitar e vejam pelos vossos próprios olhos :)

Pegando novamente no meu Fiat 500 segui em direcção a Roma, mas pelo caminho ainda fiz uma paragem em Assis, por isso lá nos encontraremos!

 

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